quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Próxima estação

Fazia frio. Ana Alice engoliu o café preto e quente. Lavou a xícara branca. Tomou água gelada. Passou batom vermelho. E saiu. Em passos curtos e apressados pegou o trem. Estava numa inquietude descompassada, destas bem femininas. Aquelas soltas palavras ainda reverberavam em sua cabeça “O prazer está no simples”.

Ela - que nunca fora simples - desejava conhecer o seu par ideal. Na última noite, em mais uma história de começo, meio e fim, havia se despedido de alguém. Do décimo homem de sua vida. Ele a beijou delicadamente. Ela gritou raivosa. Ele respirou fundo. Ela suspirou incompreendida. Parece que todas as histórias de amor acabam com bruscas gesticulações femininas e contidos gestos masculinos.

De estação em estação, Ana Alice se acumulava de questões. Lembrou de uma amiga dizendo calmamente. “Não escrevo sobre homens porque são simples demais. Eles nem usam tranças”. Quantas tranças Ana Alice fez e desfez para constatar que gostava pouco de prender o cabelo? O vagão se acumulava de gente. Ana Alice não desceu na estação prevista.

Na última noite, ela quis dizer algo de verdade, mas preferiu o silêncio. Seu corpo agitado já dizia muito, enquanto suas mãos magras escolheram tatear o desconhecido. Ela soltou os cabelos e só desceu na última estação.

Próxima Estação from Michelle Cavalcanti on Vimeo.

3 comentários:

Lina disse...

Ana Alice, acha que pode me fazer chorar no trabalho?
AMA

La Mariposa disse...

Lina minha linda,
Você está sempre entre meus passos.

Lina disse...

Linda é tu. E eu te amo dum jeito.