terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um instante, destes prolongados

Há momentos para silenciar revoltas.
Há momentos para vibrar sorrisos.
Há momentos em que o momento escapa.
Há momentos em que o momento não nos dá paz.
Há momentos para serem recordados sempre.
Há momentos para serem aniquilados.
Há momentos em que me reconheço cega.
Há momentos em que mal me reconheço.
Me empresta o espelho?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Apenas uma rosnadinha

- Olá!
- Oi
- Tudo bom?
- Sim
- O que vai fazer no final de ano?
- ....................
- ....................
- ....................
- Nem responde
- Estou ocupada
Medo deste tal mundo moderno, desta tal conectividade, desta "intimidade".
Preguiça de acompanhar, ao mesmo tempo ficar para trás parece angustiante.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longínquo e singelo.
.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Pablo Neruda

Quis passar por aqui apenas para registrar

O amor é inviolável.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

inércia

s. f.
1. Falta de movimento ou de !atividade.
2. Preguiça, indolência.
3. Propriedade dos corpos que não podem alterar o seu repouso ou o seu movimento.

domingo, 15 de novembro de 2009

Em São Paulo

Se eu quisesse agora uma pausa no tempo, talvez ela viesse.
Se eu quisesse agora as lacunas do tempo, talvez eu tivesse.
Se eu quisesse agora me perder no tempo, talvez eu me perdesse. Talvez.
Acontece que eu não quero que o tempo pare.
Acontece que eu não quero espaços em branco.
Acontece que eu não quero me perder. Não mais.
Quero o tudo do meu agora. E só.
É o que me basta neste tempo.
Tempo de meu tempo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Me gustas cuando callas

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
Pablo Neruda

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Brevidade me dê acalanto para eu acompanhar-te

Sabe quando você não consegue parar de pensar em uma coisa só?
Pois é, eu não consigo parar de pensar em uma única coisa.

Finjo que trabalho.
Finjo que tomo café.
Finjo que escuto.
Finjo que escrevo.

E aquela única coisa me toma por inteira, me devora como se eu não tivesse tempo para pedir que pare, como se eu não tivesse percepção para dizer não. Faz tempo eu disse sim aos eternos instantes initerruptos. Eu sei.

Finjo que estou.
Finjo esquecer.
Finjo que vejo.
Finjo-me ser.


Estado de celebração. Grito, sinto vida! Essa coisa que não me deixa é o viver? Estado de graça. É como se eu quisesse reunir cada pedacinho do agora para que ele não se vá, porém enquanto aqui digito mais uma letra sei que ele já se foi e continua indo, me navegando
fazendo-se fogalha. Não consigo parar de pensar nesta coisa que me acerca. Essa coisa é minha ou é de alguém? Ela que me toma e me torna inteira no presente. Quero apenas sensações, essas de agora que não me desviam o foco e me desconcentram do resto. Penso em uma única coisa.

Finjo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Agora

Gosto desta pintura, porque ela me passa a sensação que sinto agora
E então eu pergunto, por que as madrugadas são tão férteis?
Dona de prazeres e loucuras.
Senhora do meu gostoso e tranquilo caos.
Falo de coisas minhas e me perco nos tais excessos, o que não me impossibilita de dizer que eu estou me sentindo despretenciosamente livre e leve. Eu estou presente no "melhor dos mundos possíveis". Venham sujar-me! Arrebatam-me sempre que puderem, ó turbulentas instigantes madrugadas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre vontades IV ou Anoitecer

Quando o crepúsculo chega embaça os meus olhos. Ele chega e borra. As cores parecem perder o brilho. Ele chega e mancha. As formas parecem perder o contorno. Nesta hora é mais fácil confundir. Confesso, até gosto desta confusão. Será que o dia é noite? Será que a noite ainda é dia? "Eu moraria nesta hora". Sei também que quando a noite se estabelece emana beleza. Clareia os meus olhos. É tão segura, envolvente. Quero anoitecer.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Simples assim


imagem Thiago Abe

01:33

Vontade de anoitecer.
Sono.
Ando me perguntando muitas coisas.
Sono
Ando também descalça - já faz um tempo.
Sono.
Vontade de vestir meias.
Boa noite.

Tempo, tempo, tempo

Gosto de dias tipicamente paulistanos.
Eu sempre me pergunto "para onde vai tanta gente?"
Eu sempre me espanto "quanta determinação!"
Hoje choveu chuva boa.
Não me lembro de ontem.
Gosto desses dias que chovem sem querer.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Amor e arte, uma celebração da vida

Sensação de vazio.
Sensação reticente.
As minhas gavetas estão abertas, aquelas que foram trancafiadas com chaves esquecidas em algum parque, em algum supermercado, em algum carro.
Sensação de silêncio.
Sensação reticente.
Ora, as chaves sempre aparecem, ou porque um duende sapeca queria brincar com a gente ou porque há momentos para serem encontradas.
Sensação de angustia.
Sensação reticente.
Nada se define. Tudo se define. Eu não tenho necessidade nenhuma de definir. Só de diluir. Misturar. “Pedi licença, para ir ao banheiro chorar choro de alguém”.
Sensação de ressaca.
Sensação reticente.
É estranho! Apostamos em coisas que acabam. Compramos computadores que ficam obsoletos. Tudo é finito, embora eu insista em dizer que estou em busca do meio, apenas.
Sensação de enjôo.
Sensação reticente.
Haverei de se expurgar o amor? O amor é impuro? Ou amar é sujo? As reticências por vezes me acompanham, por vezes me revelam, por vezes me assustam, por vezes me acalmam. E as perguntas? “Eu gosto de me sujar com tintas”.
Sensação de inquietude.
Sensação reticente.
Demonizar o outro é mais fácil. O outro. O umbigo do outro. Sim quero o meio, porém assumo: “o final traz frustração”. Traz perda. “Eu fui ao banheiro e não chorei choro de alguém, chorei choro meu”.
Sensação de engano.
Sensação reticente.
Gosto do engano. Gosto da contradição. Gosto do amor. “Eu sangro todo mês”.
Sensação de alívio.
Sensação reticente.
Aceito a morte, porque aceito a vida. Hoje eu encontrei o guardião do meu inconsciente, que devia estar numa daquelas gavetas... Fiquei com a mente solta. Liberta. Driblando o consciente, o ego, a razão.
Sensação de leveza.
Sensação reticente.
Aceito o ciclo. Digo sim ao amor que finda e brota uma de mim.

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CASA COMIGO

Casa comigo

Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo
A mais linda, a mais amada, respeitada, cuidada,
A mais bem comida
E a pessoa mais namorada do mundo
E a mais casada
A mais festas , viagens, jantares
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais realizada profissionalmente
E a mais grávida, e a mais mãe
E a pessoa mais as primeiras discussões
A pessoa mais novas brigas, e as discussões de sempre
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais separada do mundo
A pessoa mais solitária com um filho pra criar de todas
A mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima
A mais conheceu uma nova pessoa
A mais se apaixonou novamente
Casa comigo
Que te faço a pessoa mais...
Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo.
de Michel Melamed

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
*** imagem de Thiago Abe

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mais uma vez Clarice

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Em São Paulo... TOOM!

Na cidade grande
Entre retas e curvas confusas
Entre encontros e desencontros cotidianos
Há o destino.
Neste misto de sins e nãos
Neste sobe e desce ansioso
Neste vai e vem gostoso
Sempre haverá o destino.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Apenas uma pausa (petit)

Numa dessas madrugadas longas e alegres, em um bar qualquer da Vila Madalena, em São Paulo, conversava eu e alguém sobre arte. Sobre o fazer teatral. Não faltaram indagações sobre o papel do teatro. Confesso que para mim essa coisa de papel/função é muito chata, mas confesso também que é essencial parar e pensar sobre tudo. E confesso mais ainda me pego questionando, me perguntando com um puta dedo apontado na cara “E o que você quer fazer com isso? E para que?” E é sempre ela, aquela velha consciência que aparece, uma conhecida exigência interna e externa, a razão de um fazer bonito, sabe. Transformação social. Reflexão sobre o mundo. Transgressão. E por que não a tal revolução? Ideais molhados a uma cerveja meio gelada, numa madrugada meio suja embalaram e seguiram noite adentro. Ideais verdadeiros, de alma. Acredito! "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", dizia Maiakóvski. E mais "Teatro é uma lente de aumento". Ah Michelle Santa ingenuidade! Sim é um estímulo e tanto, um enorme pedal, e sempre será meu Norte, porém digo parece confortar outros quereres. Disfarçar aqueles mais mesquinhos. Pequenos. E egoístas? Ah o prazer, ele nos trai tanto. Sim assumo a culpa, mas adianto as nossas escolhas sempre partirão de nossos umbigos, primitivamente. Que eu queime na fogueira dos altos e baixos infernos. Ora, Dionísio não celebrou a vida, regada a um bom vinho? A arte rompe. Mete o dedo. Faz feder. A arte... Ó arte, ato que exige dedicação, que é desgastante, que tenta - muitas vezes invariavelmente - preencher uma insatisfação latente e talvez pouco conhecida da criatura criadora, e aqui ponho o deslumbramento de lado, bem no canto. Não haverá arte sem comprometimento, porém digo a arte “intelectual” para inglês ou colegas camaradas verem pouco me agrada. É como estar em uma sala de reuniões mostrando e discursando para meus amigos sobre o que os alguéns lá de fora deveriam saber e fazer na minha estudada opinião é claro. O que é alienação? Vá Michelle siga sem culpa. Ta bom, ta bom, vou deixar o Manifesto Comunista em casa. Sim é inspiração, mas aviso: por aí espalho sorrisos, o feio, mas também o belo, sensações, ah e como elas são importantes. Recentemente assisti à "Memória da Cana", do Grupo Teatral Os Fofos Encenam e ao contrário de cansados "Nelsons Rodrigues" montados por aí, esta peça baseada em Álbum de Família é um convite a uma vivência, a uma experiência, cutucando e explorando sensações. Me impressionou muito. Saí com a cabeça pilhada, sem conseguir traduzir em palavras o que havia acabado de acontecer, lembrei da conversa daquela longa madrugada e creio houve redenção. Servir para alterar o estado de alguéns lá de fora já me valerá de um tanto, mesmo que momentaneamente. Eu sou atriz, chafariz! Ai meu nariz.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ruído

"Os apaixonados fabricam para si o esquecimento do mundo"
(Em O Amor Segundo B. Schianberg)

Deleite

Arte respira vontade inspira desejo espirra vômito, gozo.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Essa mania de me confessar ou Confissão IV

Foram muitas tintas acompanhadas de um sorriso largo e satisfeito, um dom azedo, um olhar vivo e sereno de alguém. Nesta noite, eu sujei as mãos, tomei um gole daquele vinho e andei pela serena e estimulante madrugada pintada.

(uma obra coletiva: papel kraft, tintas e outras coisinhas mais)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A Rita

O acaso do caso da Rita rueira
Pegou de surpresa a menina faceira
Descendo a ladeira de pé no chão
Com a rosa roubada na mão

Dona Jacinta que dava de pinta
Espreitava da esquina a doce menina
A gargalhar de satisfação
A saltitar tamanha a emoção

Quando de repente cruza seu caminho
A dona do jardim surrupiado
De braços cruzados
Rita, sem medo, encara de frente

Esbarra na gorda barriga com o dente
Daquela que lhe pega pelo vestido
Para lhe aplicar um furioso castigo
Pelo erro recém cometido

Num suspiro torto
A encurralada menina
Finge desmaiar

Num abraço fofo
A rabugenta mulher
Começa a gritar

Ninguém para ajudar!

Ao se livrar dos braços apertados
Daquela que agora se pos a chorar
A sapeca sardenta faz uma careta
E se põe a cantar

Com fé, escapa da cinta de Dona Jacinta
Beija a rosa quase perdida
Acha graça de tanta arruaça
E dá no pé sem despedida

domingo, 2 de agosto de 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

O romântico e a revolucionária (R.R.)

Enquanto ele idealiza, ela chama para o combate, convoca seus soldados, abre o peito - dificilmente pensa em recuar - e segue na linha de frente.
Quase sem estratégia, a revolucionária questiona, como se em vez de arma usasse alma. De alma e ideal o romântico se faz e refaz, e para surpresa da tal revolução, ele coloca seus tambores para rufar. Uma bela canção.
O romântico talvez espere que ela se arme. A revolucionária talvez espere que ele se desarme. E talvez, então, este choque se complete para além da alma e enfim encontre o corpo.

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CANÇÃO DA MAIS ALTA TORRE

Que venha, que venha
O tempo da paixão.

Tive tanta paciência
Que para sempre esqueço.
Temor e penitência
Aos céus partiram.
E a sede doentia
Me escurece as veias.

Que venha, que venha
O tempo da paixão.

Assim o prado
Ao esquecimento deixado,
Engrandece, e floresce
De joio e incenso,
Ao zumbir tenso
Das moscas sujas.

Que venha, que venha
O tempo da paixão.

(porque é para a revolucionária que gosta muito de Arthur Rimbaud)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Peladinha

Catarina abaixa no chão e começa recolher com as mãos os cacos da vidraça estilhaçada por uma bola despretensiosa lançada pelos pés de um garoto ansioso em marcar o gol da virada. Um a um era retirado do chão, enquanto a essa altura, a molecada já havia abandonado a rua deixando o placar empatado 1 a 1.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hoje acordei com saudades, das boas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Moraria nesta hora

17h10. Minhas moléculas ficam agitadas nesta hora. É a melhor hora do dia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sobre vontades III

Então, um desaparecido passa a ser uma foto. Passa a ser aquele momento guardado pela foto. Eu não sei quanta falta sentirei de uma foto que guardasse este momento. Foto é uma forma de arrumar algo desarrumado, materializar expectativas. Tocar em sonhos. Olhar para as sensações. Temo perder a memória disso tudo, deste estado bruto e ilimitado que me sou por hora e por agora. Quero foto desta coisa inteira. Indefinida. Inacabada. De partida.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Só para constar

Acabo de chupar limão e reafirmo o meu gosto pelo azedo. Rá!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Pelo Arquiteto

Sabe como é que eu imagino a felicidade? Acho que, quando a gente é feliz, a gente está junto de alguém que tem a pele muito fina e depois a beijamos nos lábios e tudo se encobre de uma névoa rósea e o corpo da pessoa se transforma numa multidão de espelhinhos e quando olhamos para ela somos refletidos milhões de vezes, e passeamos com ela montados nas zebras e nas panteras em volta de um lago e ela nos puxa por uma corda e quando olhamos para ela chovem penas de pombos, que, caindo no chão, relincham como potros jovens e entramos depois num quarto e começamos a passear de mãos dadas pelo teto... E as cabeças se cobrem de ouriços que nos fazem cócegas e os ouriços se cobrem de ouro, cheios de presentes, e escaravelhos de ouro.

(de Fernando Arrabal, em 'O arquiteto e o imperador da Assíria', porque este é um texto que me toca e retoca)

Mecanicidade na cidade ou Sobre vontades II

Deixar-se flagrar de modo inesperado.
O amor filmado em partes.
Parte da vontade.
Como se subisse por escadas.
Como se quebrasse as paredes.
Refletindo o que se é?
O amor se constrói.
E naquele apartamento, o amor se monta.

(encantamento.afinidades.paixão.diferenças.distância...desejo. e o que virá? virá! e que não seja esta pobre linha)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre vontades I

Do amargo gosto de uma madrugada quase fria e paulistana experimento o azedo encanto de me dar. Me entregar. Sentir. Gozar de uma vontade.
Sim, vontade passa, mas me reconheço aos pés dela. Morreria súdita de todas as minhas vontades e obedeceria, sem objeções, todos os meus impulsos e instantes neste choque, nesta colisão que é viver.

(isso porque hoje eu acordei com uma mistura de gostos e sensações)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Desarrumadas as coisas ficarão

Ana era a única virtude de Carlos. Moça de perfil bem alongado, sorriso de lado e um jeito pra lá de abusado. Costumava fumar admirando o cigarro, só para ver a fumaça se esvair lentamente, enquanto soltos, os pensamentos iam junto. A abstração vivenciada neste momento permitia passos mais longos, que jamais teriam alcance. Nunca se sentira pronta para viver uma paixão. E qual mulher se sente?

Encarava o prazer com o mesmo rigor da dor. Mesmo assim buscava um amor. Um amor que ela não conseguia definir. Um amor tão ideal que jamais poderia existir. No seu quarto, roupas fora do armário, livros fora da estante, quadros fora da parede. A desordem aparente refletia sensações profundas da palpitante jovem. Sua alma desorganizada pelos sentimentos aflorados por um homem estava inquieta. Apenas uma paixão é capaz de desconstruir uma vida inteira.

Tudo para fora. Tanto por fazer. Seu corpo pequeno mal continha tamanha vibração. Sabe aquela coisa que não cabe dentro da gente? Sabe quando a gente sente a barriga invadida por borboletas atrevidas? “Estou viva”. “Viva”. Ana somente supunha a vida. Porém, entregar-se significaria arriscar-se a decepção. Significaria aceitar a morte. Preferiu, então, guardar apenas a possibilidade de ser, a improbabilidade da realização. Preferiu, então, a eternidade.

E aquele sujeito um tanto desajeitado, o Carlos, que cuspia no chão e usava botas desbotadas acompanhadas de camisa amassada decidiu esperar por uma possível ordem da moça. Falava com os olhos quando a olhava. Sorria de verdade quando a encontrava. Ana, somente ela o fazia melhor.

domingo, 17 de maio de 2009

É sempre bom lembrá-la

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa... Não altera em nada porque no fundo a gente não está querendo alterar nada. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro"
Clarice Lispector

sexta-feira, 8 de maio de 2009


Dentro do carro, em um canto qualquer da cidade de São Paulo, entre um farol e outro, ao som de 'Novos baianos' Zé Celso, Astolfo e eu conversávamos sobre nós.

Por Zé Celso

O teatro não pode ser um instrumento de educação popular, de transformação de mentalidades na base do bom-meninismo. A única possibilidade é exatamente pela deseducação, provocar o espectador, provocar sua inteligência recalcada, seu sentido de beleza atrofiado, seu sentido de ação protegido por mil e um esquemas teóricos abstratos e que somente o levam à inefcácia.

Por Astolfo

Chamam-me de louco, porque ainda tenho nariz rubro como pipoca doce. O circo acabou por isso louco. Mas, aqui, mostro uma mentira e escondo todas as verdades. Para sempre louco!

Por mim

Intelectualidade demais é pra quem não goza.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Enquanto vovó faz comida

"Para bom entendedor meia palavra basta". A gente sabe o que querem dizer estas frases feitas, mas eu não creio que um texto deveria se fazer entendível, talvez isso dependa do fim que ele tenha. Porém, eu não gosto desta condição, nem deste fim para que ele sobreviva. Pegue uma pintura, o que nela não for figurativo não é compreendido? Talvez não mesmo, mas ali debruçada está a alma de um ser, as angustias, alegrias ou desejos de alguém... Para mim, uma obra tem de ser sentida, antes de qualquer teoria sobre qual movimento ou estilo artístico ela pertence. As manifestações criativas sobrevivem sem legenda. Um texto sobreviverá sem uma linha narrativa ou cronológica, sem uma história de começo, meio e fim. Me divirto com estes julgamentos e concepções e deles extraio mais um estímulo para criar sem condição alguma pré-estabelecida, e torno a dizer estou em busca do meio apenas. Um texto meu poderá ser um meio para qualquer coisa. Sinta.

Anseios subtraídos ou *An Seios


"E ninguém é eu. Ninguém é você. Esta é a solidão"
Clarice Lispector

Da terra
Tiro um amor despreparado.
Das máscaras
Arranco a meia luz de uma noite covarde.
Tomo banho apenas para sagrar-me limpa
Esquecendo-me de que suja andei por ai
Desamparada
Embriagada, talvez
Desesperada.
Dos sonhos
Peço uma clara manhã preguiçosa,
Com véus e promessas inacabadas
Exacerbadas
Malditas
Esquecidas.
Do ar busco apenas inspiração
Como cura dos prazeres outrora perdidos.
Agonia não tem face, pois
Porém sinto suas mãos frias
Nos meus seios
Sussurrantes
Que abrigam um céu inóspito
Insólito.
Sem querer a tenho aqui comigo
Sem ombros, nem colo
Num breu fétido e atrevido
De um caminho vívido
Fértil
E líquido
Que escorre
E eu deixo escorrer.


* An ou Anu era o deus do céu entre os Sumérios. Filho de Anshar e Ki-shar, esposo de Antu (Ninhurdag) com que gerou Enlil, era o deus mais venerável e velho entre os Anunnaki, fazendo parte de uma importante tríade divina, integrada também por Enlil, o deus dos ventos, e Enki (Ea), o deus das águas.O seu nome parece significar precisamente céu, ou alternativamente, o zénite do Sol. Era um deus cultuado em toda a Suméria, havendo santuários seus espalhados por todas as cidades do país.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um rabisco desenhado




Parte de um diálogo de devagações a respeito de "Os Sertões", texto de Euclides da Cunha adaptado por José Celso Martinez Corrêa

Concordo em partes cara companheira. Tomando por base a mais pop e não menos verdadeira frase do ilustre e filósofo Sartre "O inferno são os outros", a festa dionisíaca que embala os atuantes há 30 anos nada mais é do que peles tocantes. Apenas e nuas.
Se o nu lhe parece pornográfico, não será Zé Celso um ousado quebrador de barreiras e sim você uma construidora de definições e bloqueios. E já que o mais profundo é a pele - dito pelo filósofo e tão francês quanto o primeiro Paul Valéry - o espetáculo alcança de forma magistral a razão de sua existência. Sem fronteiras evoca o ser humano a aprofundar-se. Sem roupas demonstra aos menos tocados suas falsas liberdades, quando o aprisionamento parte de quem vê, e não de quem se propõe a fazer. Não há nada de inovador nisso. Eu apenas diria assista. Augusto dos Anjos ficaria feliz, na literatura ele é cru e nu é Zé Celso no teatro. Afinal o sertão é nu e cru, não?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Blah!

"Cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruça sobre um deles
Georg Büchner

Nauseando-se.
Nauseando-se.
Nauseando-se.
Que venha o vômito!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Enraizando

Há tempos não me sentia estimulada para escrever. Passei um longo período sem visitar este blog e até pensando em tirá-lo do ar. E agora sem eu saber o exato porque sinto uma imensa necessidade de me expressar. O mês de abril recebeu mais posts do que os últimos três meses juntos. Fase da vida? Vai saber... Sei que estou tomada por uma coisa aqui dentro meio inexplicável. É vontade de algo, sabe? Dar uma enorme gargalhada (e isso eu faço mesmo!), vontade de andar por aí, de ser surpreendida, de me apaixonar mais e mais pelas "coisas" da vida, de experimentar. Toda essa vontade tem me levado a visitas mais frequentes por aqui. E creio, esta tal disposição me levará além e sinto, estou pronta para isso.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Cicatrizes

Talvez ele tenha sido o verso mais puro dos delírios daquela jovem. Ela tomava café. Preto, forte, escuro. Ela pintava as unhas. Vermelho, quente, sensual. Ele simplesmente usava calça jeans e tênis all star destes que nunca se tira para lavar. Ela conduzia aos lugares. Ele sorria. Ela ardia em ideologias e vontades. Ele sentia. Ela se desfazia. E ia. E ele? Absorvia. Ele Ela. Ela Ele. Confundiam-se intimamente. Estranhavam-se dentro dos próprios mundos. Encaixavam-se muito bem na cama. Talvez ela tenha sido o topo mais alto das ousadias daquele jovem. Ele andava de skate. Veloz, destemido, duro. Ele tocava guitarra. Alto, charmoso, desigual. Ela simplesmente deixava a vida levá-la a qualquer canto. Ele falava dele. Ela ouvia. Ele se consumia em bons agrados. Ela sabia. Ele se descobria. E ia. E ela? Consentia. Corroeram-se pela incerteza. Desistiram de si.
Desistiram-se.
Despediram-se.
Apenas, aspirantes a amantes.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Como uma borboleta que só vive 24h

Escrevo numa madrugada quente e estranha. Tenho felicidade em vivê-la e receio acordar amanhã. Talvez a gente só queira voar... Pensar em nada é bom. “Os ignorantes são mais felizes” (?!...) É como viver em um mar de flores do campo. Elas morrem e nascem, sem ao menos que se perceba. O amor que eu procuro está onde? Será que eu percebo? Tenho tantos medos, porém quero a plenitude. Oh, contraditórias madrugadas. Minha língua perde-se com o chiclete que mordo agora, enquanto sou tomada por uma vontade de vestir-me de pureza e de cuspir fora o acúmulo da minha existência.
Com amor,
Michelle

domingo, 5 de abril de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

Não me venha falar de razão

O que é esse tanto? Mantenho-me forçadamente consciente. Evito o álcool. Evito o sono. Não quero me esquecer de nada por instantes. Vivo cada detalhe desta falta. Vejo e sinto cada parte ir. O tempo me trará a conformidade necessária para calmos dias? Estou tomada por pensamentos que me roubam do acordar, comer, dormir e sorrir.