terça-feira, 18 de agosto de 2009

Apenas uma pausa (petit)

Numa dessas madrugadas longas e alegres, em um bar qualquer da Vila Madalena, em São Paulo, conversava eu e alguém sobre arte. Sobre o fazer teatral. Não faltaram indagações sobre o papel do teatro. Confesso que para mim essa coisa de papel/função é muito chata, mas confesso também que é essencial parar e pensar sobre tudo. E confesso mais ainda me pego questionando, me perguntando com um puta dedo apontado na cara “E o que você quer fazer com isso? E para que?” E é sempre ela, aquela velha consciência que aparece, uma conhecida exigência interna e externa, a razão de um fazer bonito, sabe. Transformação social. Reflexão sobre o mundo. Transgressão. E por que não a tal revolução? Ideais molhados a uma cerveja meio gelada, numa madrugada meio suja embalaram e seguiram noite adentro. Ideais verdadeiros, de alma. Acredito! "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", dizia Maiakóvski. E mais "Teatro é uma lente de aumento". Ah Michelle Santa ingenuidade! Sim é um estímulo e tanto, um enorme pedal, e sempre será meu Norte, porém digo parece confortar outros quereres. Disfarçar aqueles mais mesquinhos. Pequenos. E egoístas? Ah o prazer, ele nos trai tanto. Sim assumo a culpa, mas adianto as nossas escolhas sempre partirão de nossos umbigos, primitivamente. Que eu queime na fogueira dos altos e baixos infernos. Ora, Dionísio não celebrou a vida, regada a um bom vinho? A arte rompe. Mete o dedo. Faz feder. A arte... Ó arte, ato que exige dedicação, que é desgastante, que tenta - muitas vezes invariavelmente - preencher uma insatisfação latente e talvez pouco conhecida da criatura criadora, e aqui ponho o deslumbramento de lado, bem no canto. Não haverá arte sem comprometimento, porém digo a arte “intelectual” para inglês ou colegas camaradas verem pouco me agrada. É como estar em uma sala de reuniões mostrando e discursando para meus amigos sobre o que os alguéns lá de fora deveriam saber e fazer na minha estudada opinião é claro. O que é alienação? Vá Michelle siga sem culpa. Ta bom, ta bom, vou deixar o Manifesto Comunista em casa. Sim é inspiração, mas aviso: por aí espalho sorrisos, o feio, mas também o belo, sensações, ah e como elas são importantes. Recentemente assisti à "Memória da Cana", do Grupo Teatral Os Fofos Encenam e ao contrário de cansados "Nelsons Rodrigues" montados por aí, esta peça baseada em Álbum de Família é um convite a uma vivência, a uma experiência, cutucando e explorando sensações. Me impressionou muito. Saí com a cabeça pilhada, sem conseguir traduzir em palavras o que havia acabado de acontecer, lembrei da conversa daquela longa madrugada e creio houve redenção. Servir para alterar o estado de alguéns lá de fora já me valerá de um tanto, mesmo que momentaneamente. Eu sou atriz, chafariz! Ai meu nariz.

Um comentário:

Balela disse...

Acho que reconheço essa noite, o melhor é que de uma forma ou de outra, o papo não foi só para camaradas, já que você repensou, e escreveu. Sabe que começo a mudar e não ser tão dura nas críticas que faço ao meu querido, porque aos poucos percebo que ele quer o mesmo que eu e você.

*Não acredito que te chamei para ver memórias da cana e tu foi sem mim, sua feia!