quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A. ou Poeira empoeirada do móvel da calçada

Está tudo parado. A coleção de cds. A leitura daquele livro interessante. Os ingressos do teatro. Está tudo apagado. O quarto de diálogos. O caderno secreto. A exposição inédita. Está tudo a beira. O copo de água. A cabeça da artista. Os pés descalços. Está tudo gelado. As cordas do violão. As mãos magras. A coberta quente. Quente está tudo. O chá da noite. O banho no chuveiro. O rádio ligado. Está tudo longe. A maquiagem ousada. O salto provocante. O desprezo necessário. Está tudo em branco e preto. O céu azul. O esmalte vermelho. O amor puro. Está tudo vazio. O pote de doces. A caixa de cartas. O corpo dela. Está tudo guardado. Você e eu. Eu e você. Você e eu. Eu e você. Está tudo veloz. A paixão inesperada. Os meses de outono. O fim de tudo. Tudo está onde deveria estar? Gota a gota, a vida escorre pela rua, pela foto, pela parede, pelas pernas, por mim e por ti.

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