terça-feira, 27 de maio de 2008

Sim, ela pode dizer e escrever que ama

Lara leu dez rótulos de remédios sem cansar-se e sem os óculos. Ficou impressionada como tudo pode ser apenas palavras. Fábulas. As coisas não passam de um lírio caído numa folha de rosto, que um dia será um tapa na cara bem dado. Eu digo bem feito?

Quando Lara arrancou as suas máscaras, esqueceu-se de quantas ainda encontraria. Tão tocantes e sedutoras. Ele é pontual. Não perde o charme, nem a hora. E ela? Bem, a Lara nunca quis largar um amor, mas largou uma porção deles. Aprendeu a conviver com a falta, como se ela fosse algo. Há coisas que são pelo desgaste e há coisas que acabam por isso também.

Na última noite, tudo lhe pareceu longo e estranho. O uivado do cachorro. O celular apitando para dizer que a bateria estava acabando. O feijão sendo cozido na panela de pressão. A descarga do vizinho. Não carregava nada na face, a não ser pavor. Foram horas de arderem a alma. Queimou e meteu frio. Beber algo? Um vinho. Coloriu as bochechas rosando até as narinas. Nada mal rodopiar na roda viva. Alto som, breve dor.

Tudo se transformou em um não sei. Sem óculos ela enxerga. A gente afasta justamente para não perder o que foi afastado. Sem máscaras ela sente. Perde antes, porque Lara não espera. “A gente rodou num instante, nas voltas do meu coração”.

Um comentário:

Anônimo disse...

é a vida...
é pra isso que existimos, quer queira ou não...