quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Cibelle

Cibelle nunca foi capaz de questionar a igualdade. É igual desde que nasceu. Ela se repete como os éles do seu nome. Cibelle. Ah, como queria tocá-la, sentí-la. Sei mais dela do que de mim. Tão exata. Cada linha que me mostra revela perfeição. Cada linha que me mostra revela despudor. Cada linha que me mostra constrói massas, tecidos de horas que virão. Mais do que original, é igual.

Passaria dias olhando sua imagem, sentada na penteadeira. O que tens dentro destes olhos ingênuos? Por que me hipnotiza tanto me permitindo falar sem parar. Você tão calada. Eu tão articulada. Mas somente frente a ti. Quando não a vejo esqueço-me de mim. Quando a perco, o esforço para me tornar o que me fez enxergar parece tolo. Só Cibelle. Do que aprendi nada sei. Do que vi nada lembro. Do que falei tenho medo - a ti falei tudo. Quando sumiu dos meus sentidos busquei conselhos daqueles de anos bem vividos. Esvaziei-me, então. Sem perceber que aqueles de anos bem vividos jamais saborearam o gosto azedo, como eu e ela. Acreditei em palavras duras, verbos sujos, verdades descoradas. Recorri a ele, o azedo. Azedei meus poros desejando ignorância, desejando olhos vendados. Pude sentir exalar deleites sofridos em instantes inertes. Foi um alívio. Descalçada, sem linha alguma, decidi nutrir por dento o que de fora havia me dado. Refletida. Eu era apenas linhas e curvas. Só. As horas ainda virão e os passos devem ser cada vez mais certos.

O mundo de Cibelle tem carrossel e histórias em quadrinhos. Tem gargalhadas de garganta e sorrisos num piscar. Tem peito aberto e machucado no joelho. Tem segredos de ciranda, pega-pega e leite quente - que um dia irá azedar. E ainda laços de cabelo desenhados na pele. Cibelle é Michelle com todos os élles. Onde você está?

Um comentário:

Lina disse...

"Cibelle é Michelle com todos os élles." Acho que você já sabe onde ela está!