quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Parede nua

Hoje achei o quadro feio. Julguei o desenho, as cores, as palavras. Feio. Até o que ele representa, eu não gostei. Até a sua indefinição presente em mim me pareceu insegura demais. Só a grossura das linhas debruçadas ali não me assusta, nem me parece ruim, prefiro assim. Intensa. Pensei em tirá-lo da parede e colocá-lo no fundo do armário, aquele mesmo, lembra? Evitei o toque. O toque, que entre as duas coisas que te falei, me faz maior, me faz multiplicada em mil. Eu não o olhei de todos os ângulos possíveis, aliás, não sei te dizer quais são todas as possibilidades - a exatidão nunca foi meu forte - mas escolho uma. Quis te dizer que a música suspira, porque suspira como eu. Na vontade de arrancá-lo da parede me vejo fraca, mentirosa, então, suspiro um pouco mais. Vou suspirando, quando a falta é maior. É um soprar de velas sem fim, sem aplausos no fim. E é este mesmo final que me consome. O previsível cortar do bolo. Algém me disse que eu estou apaixonada. Já ouvi dizer que apaixonar-se é a vontade de se reinventar. Mas eu digo que a minha paixão é um encontro com mais de mim. Um voltar-se a minha pele. Ser nua. Esvaziada. E sua. O quadro fica! Preenche a parede (pelo menos). E enquanto isso? Eu vou suspirando.

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